Helena Vilela - Uma arquiteta que escreve

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Mulheres, mobiliários e escolhas.
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Mulheres, mobiliários e escolhas.

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Helena Vilela
abr 21, 2025
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A edição de hoje tem um complemento, mas eu queria muito trazer esta conversa antes de falarmos sobre referências de uso de antiguidades e mobiliários antigos em espaços contemporâneos.

Móveis usados

Eu tinha meus 12 anos quando minha avó minha levou à uma loja de móveis usados. Ela estava vendendo dois armários chipandelle de madeira nobre que ela tinha em casa. Na cidade onde nasci e cresci, bem provinciana, uma loja de móveis usados não era vista com bom olhos e antiquário não existia. E as pessoas insistiam em vender móveis antigos para fazer armários de fórmica para suas casas, o que, naquela época, era uma escolha “moderna” alinhada à tendências do momento, o que permitia também uma personalização do espaço de acordo com o gosto da pessoa.

Minha avó estava vendendo seus armários pois ia se mudar de sua casa, num bairro distante, para um apartamento pequeno no centro da cidade. Bom, isso foi o que ela me contou. Hoje, com outros olhos e muitos e muitos livros a mais, percebo que talvez aquele momento tenha tido um significado muito maior: seria a primeira vez dela morando em um apartamento, poderia ser uma possibilidade de renovação de vida e até mesmo criar um espaço novo para uma nova fase de vida após tantos anos vivendo no mesmo lugar.

Espaços e a liberdade feminina

Cheguei a dividir no instagram como tenho refletido acerca de algumas questões a partir da literatura que tem trazido a questão da mulher e do espaço personalizado para sua liberdade. Em Monique Se Liberta, por exemplo, Édouard Louis aborda esta questão reforçando que a mulher precisa ter uma independência financeira para conquistar o seu espaço e construir espaço que a agrade. 

Em “De quatro”, e embora eu não tenha gostado do livro, a autora Miranda July (AVISO DE SPOILER) aborda a questão da pessoa que nunca teve um espaço personalizado ter a necessidade de criar espaço que fosse a cara dela. E por ter se libertado naquele quarto, que ela decora do jeito que ela queria a partir de uma determinada quantidade de dinheiro (um investimento alto, diga-se de passagem), ela entende que o mundo pode ser, assim como aquele quarto, espaço no qual ela tem a chance de experimentar e ser livre. O que me chamou a atenção neste libro é que assim que a personagem embarca numa viagem de 3 semanas, na primeira parada que ela faz, ela compra um item num antiquário. Normalmente, encontramos muito significado - além do que nós podemos enxergar em peças assim, especialmente pelo fato de serem únicas.

Não é a primeira vez que mulheres e espaços são abordados. No começo do século XX, Virginia Woolf, em um Teto Todo Seu, aborda a necessidade da mulher ter uma renda mínima e da necessidade da mulher ter espaço em sua casa no qual ela pudesse exercer ofício criativo e ser livre, por assim dizer. Este livro, fruto de uma palestra ministrada por ela, foi interessante para o início de inúmeras pesquisas acercas da questão do espaço e da mulher em sua casa.

Mulher e escolhas

Neste momento, um dos livros que estou lendo chama-se “The Age of Choice: A History of Freedom in Modern Life” de Sophia Rosenfeld, (não vou postar nada relacionado ao livro - palestras, podcasts e resenhas, pois não quero spoiler aqui rs). Uma coisa muito interessante que o livro aponta e que chama atenção é que lá no final do século XVIII, quando um leiloeiro apresenta uma inovação que é a introdução de catálogos para despertar o desejo de compra de alguns itens que iam a leilão, as mulheres tinham horário reservado só para elas. Naquela época, comprar algo novo era muito raro, então o comércio de segunda mão era o comum. Por meio disto, a autora apresenta como as escolhas domésticas eram significativas, uma vez que era o único lugar no qual as mulheres podiam exercer suas escolhas eram em relação à casa, e como isso, posteriormente, foi refletido na literatura. Então, muitas vezes, as personagens, com aqueles diálogos internos, elas estavam olhando alguma coisa e pensando “eu posso não escolher isso. Em compensação, na minha vida pessoal, eu não posso”.  

Estas escolhas das mulheres no campo da domesticidade, da casa, foi refletida na forma como as mulheres seriam educadas naquela época. Elas não podiam fazer arquitetura, mas elas podiam fazer horticultura, paisagismo, elas podiam fazer decoração, interiores, mas elas não podiam estar ligadas a campo mais masculino, o da construção. Na década de 1960 (muitas mulheres foram impedidas de estudarem em algumas universidades até 1930 - por aí), Silvia Plath, em “A redoma de Vidro” também vai trazer o dilema das escolhas, só que dessa vez na cena maravilhosa da figueira quando uma mulher pesa os caminhos e opções que tem na vida. E é interessante que se a gente pensar nisso, a gente vai ver que Florence Knoll - cerca 1950’s, apesar de ser arquiteta por formação vai atuar em interiores e revolucionar o campo da arquitetura e interiores, tornando-os mais conectados, pensando de forma única. 

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